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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A poetisa d'além-mar.

A poetisa portuguesa Florbela espanca, de nascimento Flor Bela Lobo; viveu plenamente seus 36 anos, transformando seus infortúnios com a solidão, os desencantos e o desejo pela felicidade absoluta, em poesia.   Filha de João Maria Espanca e de Antônia Conceição Lobo - uma mulher de favores, como era conhecida na época, com a qual seu pai ainda gerou Apeles, seu irmão; foi educada por Mariana Espanca, legítima esposa de João Maria, que lhe tomou em adoção juntamente com seu irmão Apeles. Somente 19 anos após sua morte, seu pai diante da insistência de terceiros a recebeu de acordo com a lei, dando-lhe o sobrenome Espanca.
Sua obra esboçou toda a inquietude da qual cercou-se sua vida, tumultuada e cheia de sofrimentos. Os casamentos falhos, as tantas desilusões amorosas e a morte trágica do irmão Apeles, levam Florbela ao sofrimento pleno. Ela passa a dedicar-se plenamente a uma homenagem ao irmão, As máscaras do destino. Porém, a neurose agrava-se levando a primeira tentativa de suicídio em 1928. Em 1930 após o diagnostico de um edema pulmonar, Florbela perdeu completamente a vontade de viver, tentado novamente suicídio por duas ocasiões: outubro e novembro. Na data de seu 36º aniversário não resistiu a uma overdose de barbitúricos e faleceu prematuramente para seus admiradores.
Florbela deixou uma obra vasta e com facetas diversas: poesias, contos, um diário (escrito às vésperas de sua morte) e cartas; dentre outros trabalhos de tradução e colaboração em revistas e jornais. Charneca em flor, é sua obra-prima que teve lançamento em 1931.
Algumas de suas poesias foram transformadas em canção, como exemplo temos o poema Fanatismo, interpretado pelo cantor cearense Fagner, que veio a tornar-se grande sucesso popular.


Eis algumas de seus poemas:


Fanatismo 
Minhálma, de sonhar-te, anda perdida 
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és se quer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!


Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!


"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!


E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..." 


Eu ...

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
                                                                  E que nunca na vida me encontrou!

Ser poeta
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!




 

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