Sua obra esboçou toda a inquietude da qual cercou-se sua vida, tumultuada e cheia de sofrimentos. Os casamentos falhos, as tantas desilusões amorosas e a morte trágica do irmão Apeles, levam Florbela ao sofrimento pleno. Ela passa a dedicar-se plenamente a uma homenagem ao irmão, As máscaras do destino. Porém, a neurose agrava-se levando a primeira tentativa de suicídio em 1928. Em 1930 após o diagnostico de um edema pulmonar, Florbela perdeu completamente a vontade de viver, tentado novamente suicídio por duas ocasiões: outubro e novembro. Na data de seu 36º aniversário não resistiu a uma overdose de barbitúricos e faleceu prematuramente para seus admiradores.
Florbela deixou uma obra vasta e com facetas diversas: poesias, contos, um diário (escrito às vésperas de sua morte) e cartas; dentre outros trabalhos de tradução e colaboração em revistas e jornais. Charneca em flor, é sua obra-prima que teve lançamento em 1931.
Algumas de suas poesias foram transformadas em canção, como exemplo temos o poema Fanatismo, interpretado pelo cantor cearense Fagner, que veio a tornar-se grande sucesso popular.
Eis algumas de seus poemas:
Fanatismo
Minhálma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és se quer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio do Fim!..."
Eu ...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
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